sexta-feira, 16 de abril de 2010

A discussão durou a noite inteira:

— Eu não suporto mais essa vida, Jorge! Você mudou muito nesses últimos anos!

— Ah, Renata… vê se não enche! Você também mudou e eu não reclamo, veja, você pesa hoje 20 quilos a mais, usa um corte de cabelo ridículo e agora se veste com essas roupas monocromáticas!

— Você é um crápula, Jorge! Um mal educado inconveniente!

— E você é uma desequilibrada, sua maluca!

— Eu vou embora! — E tentou sair, porém, sem sucesso, pois Jorge havia trancado a porta e escondido a chave.

Havia anos que Renata se sentia sufocada com o namoro. Jorge dava motivos, pois era possessivo, ciumento e autoritário. De homem simpático e cortês, se transformou num troglodita raivoso e displicente. Ele sentia prazer em provocá-la até que ela saísse do sério e perdesse a compostura. E não media esforços para obter êxito.

Após o calor da discussão, Renata corre e se tranca no quarto. Lá, ela encontra em baixo do colchão um envelope. Curiosa, abre desesperadamente. Dentro, se depara com duas fotos de Jorge com outra mulher na cama de um motel, e uma carta de amor exalando um perfume barato. Jorge tinha uma amante. Enfurecida e decepcionada, faz um telefonema. Desliga o telefone e depois de quinze minutos corre em direção à janela. Primeiro, deprimida e em lágrimas, senta de costas. Depois, decidida, vira-se de frente para a rua, e com as duas pernas dependuradas na beira da janela, prepara-se para pular. Eis que um grito a interrompe:

— Renata! Que isso? Não pule!

Ela olha para trás, visivelmente trêmula e assustada, e grita:

— Seu idiota, canalha… eu achei suas fotos com a vagabunda da sua amante! Não acredito que você me traiu.

— Eu ia te contar, mas não precisa fazer isso.. não precisa acabar assim.. volte aqui, vamos conversar?

— Sai de perto de mim! Mais um passo, eu pulo!

Jorge não sabia o que fazer. As pessoas que passavam na rua já começavam a se aglomerar no local; dezenas de curiosos estavam atônitos assistindo ao episódio. Os vizinhos saiam nas janelas e não sabiam o que dizer.

— Dê-me mais uma chance, Renata... eu juro que agora eu mudo. Mas, por favor, não parta assim da minha vida!

— Chega Jorge! Não dá mais para aguentar tanto sofrimento. Foram anos e anos me dedicando a você! E você só pisando nos meus sentimentos... Chega!

— Bláh, você é uma doida mesmo... sua desatinada, sem juízo... pode pular, quero ver se você tem coragem! No fundo você ainda me ama e faz isso só pra chamar a atenção! Sua louca!

Diante do constrangimento passado ao descobrir a traição, Renata estava realmente perturbada. Lembrou mais uma vez do que ouviu no telefone. Aquela ligação foi responsável pela sua atitude. E ela não ia desistir agora.

Respirou profundamente, esticou a coluna e os dois braços, virou pela última vez a cabeça em direção ao Jorge, e disse, aos prantos:

— Adeus...

E pulou.

Diante do último fio de coragem que Renata esboçou ao pular da janela, ele nada foi capaz de fazer. Jorge não teve outra reação a não ser se ajoelhar no chão e chorar, arrependido de ter perdido aquela mulher, daquela maneira tão deprimente.

Os vizinhos ficaram boquiabertos com o acontecido, pois jamais suspeitavam que Renata tivesse a audácia de realmente fazer aquilo. Ela sempre foi uma moça equilibrada e controlada.

Os curiosos na rua, abismados e completamente estarrecidos, cochichavam sem saber o motivo daquele acontecimento.

E Renata, depois que pulou da janela daquele apartamento de andar térreo, caminhou lentamente em direção ao carro de Carlão, seu ex-namorado da época da escola, que esperava por ela do outro lado da rua, conforme combinaram por telefone. Ela atravessou a rua com passos firmes e sem olhar para ninguém, lembrando somente da frase que Carlão disse. A frase que a motivou a tomar aquela decisão: “Venha comigo minha princesa, que eu vou te fazer feliz”.

Por: Robson M. Gonçalves.

''Cuide bem do seu amor, seja quem for. (..) Cuide dela bem melhor, ou vai ficar só o pó'' ♫

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